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GILDES BEZERRA

(  Brasil  -  Paraíba  )

Gildes Bezerra. Nascido em Campina Grande, Paraíba, no dia 23 de agosto de 1937. Veio para Minas Gerais com três anos de idade,..  Autor de “Cantações”, ou “hai-caipiras”. 

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Corças

Se perdem,

Se entregam,

Se tomam.

De dia têm curvas,

De tarde são turvas,

De noite se despem.

São frágeis,

São ágeis

E firmes.

De dia são olhos,

De tarde são ancas,

De noite são pernas.

Se adornam,

Se enfeitam,

Se ornam.

De dia se olham,

De tarde se falam,

De noite se molham.

Se querem,

Se aderem,

Se colam.

De dia se almoçam,

De tarde se lancham,

De noite se bebem.

Se unham,

Se arranham,

Se mordem.

De dia são moças,

De tarde são laços,

                De noite são corças.

 
DOIS PONTOS

Maria
Falava e agia
Com reticencias...
João
Se fechava
(Em seus sentimentos)
Entre parênteses.

Se “completavam”
Entre aspas.

Aquilo era amor?
Amor, uma vírgula.

Então, no romance,
Colocaram um
Ponto final.

       CAPRICHO

Mulher flor, paixão, seresta.
Guerra, espada, paz e festa.
Mulher sala, cama e mesa,
Janta, almoço e sobremesa.

Mulher tarde, noite e dia,
Peito, parto, colo e cria.
Mulher terra, chuva e sol,
Cobertor, sonho e lençol.

Mulher mel, doce e recheio,
Pranto, prato e devaneio.
Meiga, amiga e frigideira,
Forno, afeto e companheira.

Mulher-feira, embrulho e bolsa,
Vida, riso, canto e fossa.
Mulher luz, estrela e céu,
Seda, chita, opala e véu.

Mulher livro, lauda e bata,
Toga, tese humana e exata.
Mulher letra, giz, doutora,
Operária e lavradora.

Mulher corpo, rosto e seios,
Ancas, coxas, boca e anseios.
Mulher vinho, viola e dança,
Polpas e protuberâncias.

Mulher-brilho, azul, vermelho,
Rosa, ruge, cor, espelho.
Índia, negra branca e parda,
Cor de sol, nissei, mulata.

Mulher-prosa, verso e musa,
Chanel, jóia, base e blusa.
Mulher malva e mal me quer,
Mulher-flor, Amor, Mulher.

ÂNGULO NO.  75  Cadernos do Centro Cultural Teresa D´ Ávila.  No. 75
  Abril / Junho 1998.     ISSN 0101 191 X            

        O que são Cantações? São canções, cantigas, cantatas?
O termo formado sobre o verbo cantar recebe um cunho menos erudito,  
menos erudito, mais quotidiano e popular, como se o poeta quisesse frisar que
a música adequada a seus poemas é a de todo dia. Faz “cantações” sobre a
Rosa Maria, que foi aprendiz de tudo, na vida, até de ser feliz.

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Página publicada em abril de 2023